sexta-feira, 20 de março de 2009

Despojamentos

Neste último ano da legislatura de um governo socialista e em vésperas de novo período de eleições vivemos um tempo particularmente difícil a nível mundial, nacional e, como não poderia deixar de acontecer, a nível local. Estamos já habituados a ter e a ser menos que os outros – leia-se, outras regiões do país, e por isso mesmo, maior tolerância temos à miséria e ao despojamento que nos infligem. Infelizmente, ontem, hoje e, desconfio, amanhã Lisboa e suas instituições continuarão a ter sobre o território nacional uma visão holística, na qual o todo se impõe ao particular e/ou às partes, esquecendo-se que são as partes que constituem esse todo e que há diferentes partes.
Também seria importante que essa visão torpe e distante do país das pessoas que o habitam implicasse que o “todo” ultrapassasse as periferias das grandes urbes litorais.A distância que nos separa desse outro Portugal faz com que sejamos vistos como algo que está a definhar e que em breve desaparecerá e, como tal, é desperdício nacional investir nestas geografias marginais. Aquilo que temos assistido nas últimas décadas – curiosamente, ditas democráticas, e em particular mais recentemente, sob o (des)governo socialista é um incessante e continuo desinvestimento na região transmontana, despojando as comunidades dos parcos bens e serviços que ainda sobravam.
E não adianta os eleitos locais e nacionais pelo partido socialista virem a terreiro dizer que nada foi retirado ou subtraído aos transmontanos, pois estes bem sentem na sua vivência quotidiana as crescentes dificuldades. Mas esta reflexão teria que ir mais além e numa viagem sem sair do lugar, percorro os trilhos dessa áspera realidade:
- Centralizam-se serviços administrativos, impondo uma racionalidade financeira e consequentemente afastando-os dos cidadãos;
- As infra-estruturas básicas, em pleno século XXI, continuam por cumprir. Na região ainda há comunidades sem direito à água, em qualidade e quantidade mínimas e suficientes. Ainda há muitas comunidades sem direito a um saneamento básico salubre e higiénico;
- As vias de comunicação regionais e locais encontram-se num estado lastimoso e, por isso, situações como a da aldeia de Macedo do Mato, que recentemente foi notícia nacional pelo caricato e pela evidência dos interesses pequeninos da gestão autárquica em Portugal;
- Transportes públicos deficientes, sendo negócio para um mercado privado que não respeita nem defende os interesses dos utentes;- Transformam-se aldeias em centros de dia e/ou lares de 3ª e 4ª idade – essas instituições totais entendidas pela sociedade em geral como uma antecâmara da morte e dos cemitérios;
- Abandona-se ostensivamente a agricultura e a agro-pecuária, sobrando por todo o distrito a pequena agricultura que não mais serve do que para alimentar os próprios e afins;- Indústria não há;
- Um sector terciário minimalista, reduzido que está (salvo raras excepções, dos franchisados…) ao próprio negociante atrás do balcão;
- Trocam-se valências hospitalares por helicópteros (que por acaso e só, ainda não chegaram!?...);
- Trocam-se SAPs por VMERs;
- Prometem-nos ICs e auto-estradas como eu prometo rebuçados à minha criança, mas só se ela se portar bem… (seja lá o que isso for!?)
E a tudo isto assistimos nós e assistem, impávidos e serenos, os senhores investidos nas nossas autarquias pelos cidadãos da região, lavando da culpa as suas mãos e focando a sua atenção e o seu esforço nas amarras dos seus quintais, preocupados com a eminente hipótese sacrílega de uma invasão de vacas ou gados dos vizinhos às suas propriedades – quais guardadores de quintais… E assim somos (des)governados. Haverá alguma evolução positiva para a nossa região nos últimos anos!?...
Não creio e, inclusive, temo que esta situação não só se mantenha como se degrade até ao dia do despojamento final.Por tudo isto, este ano de 2009 é um excelente ano para nós, transmontanos, demonstrarmos através do voto, o nosso descontentamento e a nossa revolta pela imensa e manifesta incompetência daqueles que têm exercido o poder local e nacional.
O Bloco de Esquerda ao reunir agora e assim também em Bragança percebe o reforço, a legitimação e o ânimo, simbólicos e efectivos, que a sociedade portuguesa deposita na sua capacidade e no seu projecto político.
Sim, porque o BE não ambiciona uma sociedade imaginada, mas sim uma sociedade realizada e, em todos os momentos, procura transmiti-la aos portugues@s, se quiserem teimosamente, mas sempre dizendo no que acredita e ao que vem.
O desafio do BE em Bragança é enorme, pois se há quatro anos éramos vistos como “aves raras” ou “despenteados mentais”, hoje percebemos a enorme expectativa na nossa acção de esquerda, a enorme expectativa em relação às nossas propostas socialistas. Porque é Esquerda, porque é Bloco, é Bloco de Esquerda.

(publicado no jornal Nordeste do dia 17/03/2009)
fotonovela
(no mesmo jornal)

E tudo isto num jantar de aniversário (10º) do BE em Bragança no passado dia 14 de Março, assim relatado pelo Jornal Nordeste:


Sem comentários: