quarta-feira, 25 de março de 2009

Douro: fecho surpresa de mais duas linhas revolta população

Estação de Amarante na linha do Tâmega. Os pequenos comboios vermelhos também circulavam na linha do Corgo.


A Refer encerrou esta terça-feira à noite as linhas do Corgo e do Tâmega, sem qualquer aviso prévio, "por tempo indeterminado". A decisão revoltou as populações da zona que barraram a passagem do último comboio, impedindo-o de chegar à Régua, e exigindo a reposição total da circulação. O governo alega razões de segurança, mas por trás da decisão podem estar critérios economicistas.
A deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto já manifestou a sua "indignação" por este encerramento "às escondidas e na calada da noite" e lembra que o goveno nunca respondeu a um requerimento de Novembro sobre as condições de segurança destas linhas.

Depois do encerramento da Linha do Tua em Agosto de 2008, eis que agora a Refer fecha as duas restantes linhas do Douro, com claros prejuízos para as populações locais.
Segundo o jornal Público, a decisão de encerrar a linha do Corgo (que liga Régua a Vila Real) e a linha do Tâmega (que liga Livração a Amarante) já tinha sido tomada há alguns meses, mas a Refer e a CP preferiram não a divulgar, fazendo-o apenas em cima da hora, para evitar protestos continuados das populações.Segundo a Agência Lusa, a decisão foi tomada pela secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, e anunciada à comunicação social pelo representante do Governo no distrito de Vila Real.
"Esta decisão resultou de uma inspecção de qualidade que detectou que o percurso não estava nas melhores condições de segurança", afirmou Alexandre Chaves.

Esta terça-feira, o comboio que se encontrava em Vila Real e que todos os dias pela manhã leva os primeiros passageiros para a Régua, regressou à noite para esta cidade, operação que faz recordar a forma como há 16 anos encerrou a linha do Tua (entre Mirandela e Bragança) com as composições a regressarem vazias durante a noite para evitar a contestação das populações.
Só que a população de Carrazedo soube da manobra e o comboio não chegou ao seu destino, porque, a meio da viagem, dezenas de populares lhe travaram a marcha, gritando "queremos o comboio".Os motivos para o encerramento da linha alegados pela Refer são vagos e no mínimo duvidosos.
A empresa justifica-se com a necessidade de reabilitação daquelas linhas, mas não tem qualquer calendarização para iniciar os trabalhos, não dispõe dos projectos para tal e não abriu qualquer concurso público.
O percurso destas linhas será agora assegurado por transportes rodoviários alternativos, com o mesmo horário dos comboios, uma solução que não agrada à população, por ser menos cómoda e menos eficaz. Os populares temem que por trás da decisão estejam razões economicistas, dada a falta de rentabilidade daquelas linhas.
A deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto manifestou "grande indignação" com facto da CP e Refer decidirem "encerrar as linhas às escondidas e na calada da noite, nas costas das populações".
Em Novembro de 2008 e na sequência dos problemas da linha do Tua, o Bloco de Esquerda questionou o Ministro das Obras Públicas sobre as condições de segurança das linhas, mas fiocu sem resposta.No requerimento apresentado, Helena Pinto revelava a sua preocupação pelo facto de a Refer "reduzir ao mínimo as brigadas de conservação destas linhas, trocando o pessoal fixo por contratos com empresas que fazem trabalhos de conservação por empreitada". E questionava: "Considera o Ministro que o recurso ao outsourcing garante qualidade nos serviços de manutenção das linhas?" A resposta nunca chegou.

Num espaço de um ano a Refer "encerrou temporariamente" 134kms de linhas férreas: 42kms no Tua na sequência de um acidente, 53kms entre Pampilhosa e Figueira da Foz por razões de segurança, 45kms entre Guarda e Covilhã para efectuar obras e agora os 13 e 26kms que restavam do Tâmega e do Corgo, também por alegadas razões de segurança.
Desta lista, porém, apenas decorrem obras entre a Guarda e Covilhã, estando a circulação ferroviária suspensa nas restantes sem que, por parte da Refer, haja qualquer comprometimento com datas para obras e reabertura das linhas.
Ainda segundo o jornal Público, o investimento ferroviário em Portugal tem caído nos últimos anos, passando de 426 milhões de euros em 2005 para 307 no ano seguinte e 264 em 2007.
No ano passado foram gastos na ferrovia apenas 250 milhões de euros.

Sem comentários: