sábado, 23 de fevereiro de 2008

INE: Pelo menos 43 mil licenciados têm emprego pouco qualificado


Um estudo do INE revelado esta sexta-feira diz que há mais de 43 mil licenciados a trabalhar em actividades classificadas como pouco ou nada qualificadas: vendedores por telefone ou ao domicílio, empregados de loja, pessoal de limpeza, lavadeiras, mecânicos, engomadores de roupa, seguranças, empregadas domésticas ou estafetas, por exemplo. Quem aproveita são as empresas de trabalho temporário, a que recorrem cada vez mais licenciados que já só querem agarrar qualquer trabalho."Cerca de 80 por cento de todos os currículos que recebemos são de licenciados. São sobretudo da área das ciências sociais, embora também comecem a aumentar na área das ciências exactas", disse à Lusa Sónia Silva, directora da Select, uma das maiores empresas de trabalho temporário a operar em Portugal. A mesma empresa, que recruta trabalhadores para call-centers a ganhar em média 2,5 euros, mais de um terço dos 7500 operadores têm um curso superior. Uma situação que se repete nas grandes superfícies comerciais: por exemplo, quem faz compras no grupo Auchan (Jumbo e Pão de Açúcar) tem uma boa probabilidade de encontrar um dos 270 diplomados que ali são operadores de caixas registadoras.A estimativa do INE poderá duplicar se considerarmos que há 46 mil licenciados que desenvolvem actividade classificada como "pessoal administrativo e similares": empregados de recepção, telefonistas ou cobradores de portagem, por exemplo. Estes números tiveram como base o Inquérito ao Emprego do ano passado. De fora ficam os 60 mil licenciados que não conseguem arranjar emprego, um problema que se tem agravado nos últimos anos: a taxa de desemprego para quem tem habilitações superiores duplicou nos últimos 5 anos.Para Ana Drago, deputada do Bloco de Esquerda (BE), não basta que o Governo “trabalhe apenas sobre as questões do ensino superior, tem que haver medidas complementares ao nível da qualificação e modernização da própria economia”. “Grande parte do que é hoje o tecido económico nacional é muito pouco competitivo, muito pouco modernizado e pouco adaptado daquilo que são as exigências do mercado europeu e isso tem conduzido a que muitos jovens que têm apostado na sua formação não conseguem de facto encontrar emprego”, afirmou a deputada à Lusa.O dirigente da CGTP Joaquim Dionísio partilha desta leitura, tendo afirmado que “o Governo refuta e não reconhece que o desemprego tem a ver com a situação económica das empresas que não revelam capacidade para integrar pessoas licenciadas”, sustentou.O ministro do Ensino Superior reagiu ao estudo admitindo a necessidade de reestruturar alguns dos cursos que mais contribuem para o desemprego, embora se tenha recusado a tirar conclusões definitivas a partir destes dados. Para Mariano Gago, "existem áreas de formação que parecem estar a contribuir para os números do desemprego numa proporção muito maior do que os diplomados que formam, mas dentro dessas áreas há cursos que contribuem mais do que outros e dentro desses cursos também é muito variável. Acontece em algumas escolas e não noutras. O que interessa é saber se é uma situação pontual ou constante".Os cursos de Psicologia merecem destaque na lista dos cursos com mais desempregados, ocupando sete lugares entre as quinze licenciaturas com mais diplomados inscritos nos centros de emprego, nomeadamente com duas das três primeiras posições. No total, a área das Ciências Sociais e do Comportamento, que abrange cursos como Psicologia, Antropologia, Economia ou Relações Internacionais, por exemplo, representa 13 por cento dos licenciados inscritos nos centros de emprego. Um dos cursos com saída profissional mais dificultada é o de Enfermagem do Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, que licenciou 66 alunos entre 2003 e 2006, estando 49 actualmente desempregados, o que representa 74 por cento.

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