sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Palestina: "A posição da UE tem sido uma tragédia", diz Miguel Portas


Funeral do ministro do Interior do Hamas, atingido por um bombardeamento israelita. Foto Lusa/Epa

A sessão pública de solidariedade com o povo palestiniano juntou no Fórum Lisboa cerca de duzentas pessoas para ouvir testemunhos e apelos ao fim da invasão israelita. Porque "as palavras não estão gastas", como disse Domingos Lopes do Forum pela Paz, organizador do evento. Os eurodeputados Francisco Assis e Miguel Portas, que esteve em Gaza no princípio da semana, partilharam a mesa da sessão com Luís Moita e Ulisses Garrido.

Luís Moita afirmou que Israel vive hoje uma democracia selectiva, como em tempos foi a África do Sul, lembrando que os partidos árabes estão proibidos de concorrer às próximas eleições. E sublinhou as semelhanças com o regime do apartheid: "Imaginem o que é esta situação em que há 150 mil colonos espalhados pelo território da Cisjordânia, numa espécie de bantustões controlados por extremistas".

Em seguida, o eurodeputado Francisco Assis revelou ser a primeira vez que participa neste tipo de iniciativas, e fê-lo por considerar que "ninguém se pode colocar numa posição neutral" em relação a este conflito e que "o silêncio seria uma forma de colaborar com o que de mais sinistro existe na política internacional". "Não há simetria possível entre o sofrimento e as condições de vida em Israel e Palestina", afirmou Francisco Assis que no entanto deposita esperanças na acção do presidente recém-eleito dos EUA, Barack Obama, por representar um virar de página em relação ao poderio de outro extremismo religioso, o evangélico, à frente dos destinos dos EUA.

Miguel Portas interveio em seguida para relatar a sua visita à faixa de Gaza, com outros oito eurodeputados, no início da semana, começando por dizer que as imagens que trouxe (disponíveis na secção video do esquerda.net) são das primeiras a sair de lá, uma vez que não é permitido o acesso a jornalistas e as imagens que vemos nos telejornais, ou são de arquivo ou captadas a partir do exterior.

"O sentido desta visita foi dar ânimo àquele povo isolado, sem informação, electricidade e gás", disse Miguel Portas, antes de repetir que Israel não respeita as suas tréguas, tendo caído algumas bombas durante a visita dos deputados europeus. "Quanto à trégua anterior, Israel quebrou-a desde o primeiro dia, com a manutenção do bloqueio a Gaza", que impede a entrada e saída da ajuda humanitária, pessoas e mercadorias.

Quanto à posição da União Europeia no desenrolar do conflito, Miguel Portas classificou-a como "uma tragédia" desde o início, acompanhando a maior parte da comunidade internacional no apoio à parte mais forte do conflito. Ao dar luz verde ao "upgrade" das relações diplomáticas com Israel, o sinal que a Europa transmitiu, na opinião do eurodeputado do Bloco, foi de que os partidos do governo israelita em vésperas de eleições tinham carta branca para mostrar quem é o mais duro. "Esta guerra começou por causa das sondagens. Esta é a miséria da política", concluiu Miguel Portas.

A terminar as intervenções antes do debate, Domingos Lopes começou por saudar todos os israelitas que lutam pela paz e referiu-se também ao contexto político em que esta guerra é despoletada por Israel, dirigindo-se aos que também em Portugal escreveram a apoiar o massacre de Gaza. "Será que temos de aceitar que numa democracia o número de mortos sirva de programa eleitoral?", perguntou o promotor do Fórum pela Paz. Esta iniciativa serviu para mostrar uma vez mais que "as palavras não estã gastas" e terminou com um apelo à mobilização cívica dos portugueses pela paz e a favor da resistência do povo palestiniano



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