quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Chinês que pediu autorização para se manifestar foi preso

Tocha Olímpica em PequimA organização de direitos humanos Human Rights Watch denunciou a detenção de activistas chineses que pediram autorização para se manifestarem num dos três locais destinados pelas autoridades chinesas a protestos em Pequim. O último foi Ji Sizun, de 58 anos, que viajou da província de Fujian, no sudoeste da China, e queria apelar à "maior participação dos cidadãos chineses nos processos políticos e denunciar o aumento desenfreado da corrupção oficial e dos abusos de poder", afirma um comunicado da organização.
O activista entregou um requerimento de autorização para protestar na esquadra da polícia em Deshengmenwai a 8 de Agosto, dia em que começaram os Jogos, e desapareceu três dias depois, quando voltou à esquadra para saber se o seu pedido tinha sido aceite. "Testemunhas afirmaram que Ji entrou na esquadra da polícia cerca das 10:45 no dia 11 de Agosto. Às 12:15 foi escoltado para fora do edifício e foi metido dentro de um veículo, um Buick de cor escura e sem matrícula, por um grupo de homens que pareciam ser polícias à paisana", afirma o HRW.
O telemóvel de Ji está desligado e na esquadra afirmam que ninguém foi preso.
"Os pedidos de autorização para realizar protestos não significam claramente dar às pessoas maior liberdade de expressão, mas tornar mais fácil à polícia suprimi-los", denunciou Sophie Richardson, directora da Ásia da Human Rights Watch.
Em 23 de Julho deste ano, o director de segurança do Comité Organizador de Pequim dos Jogos Olímpicos, Liu Shaowu, anunciou a criação de três zonas de protesto em parques de Pequim, dizendo à imprensa que "os manifestantes que quiserem exprimir as suas opiniões pessoais podem fazê-lo, seguindo as mesmas práticas noutros países."
Mas a HRW considera que o processo é mais restritivo do que em muitos países que usam este sistema de áreas predestinadas. Os requerentes têm de fazer uma notificação formal pelo menos cinco dias antes, sujeita à aprovação da polícia. Mas os não-residentes em Pequim não podem manifestar-se, e são proibidos os protestos que possam causar dano à unidade nacional e "aos interesses nacionais, sociais ou colectivos", sem maiores explicações sobre o que isso significa.
As três zonas de protesto, por isso, têm permanecido vazias.
"Ninguém deve confundir a falta de manifestantes com a falta de queixas", diz Sophie Richardson. "A prisão e assédio dos que tentaram levar as palavras do governo a sério mostram até onde as autoridades estão dispostas a ir para evitar que a população pacificamente exprima os seus pontos de vista."
A organização cita os nomes de mais quatro pessoas que tentaram obter autorização para protesto e em resposta foram detidas ou ameaçadas.
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