
Bragança, 27 Dez (Lusa) - O ano de 2008 fica marcado pela sucessão nunca vista de acidentes na Linha do Tua que serviram para desvendar o mistério dos descarrilamentos e para "ressuscitar" o comboio, uma realidade esquecida nesta região. Desde a desactivação das várias linhas-férreas do Distrito de Bragança, em finais da década de 1980 e início de 1990, que o comboio desapareceu do quotidiano da maioria da população.
Muitos já nem se lembravam que restavam perto de 60 quilómetros de caminho-de-ferro quando ecoou a notícia, em Fevereiro de 2007, do primeiro e mais grave acidente nos 120 anos da linha do Tua, com três mortos e dois feridos.
Desde então, a linha não mais deixou de ser notícia, pelos acidentes, pela polémica em torno da barragem e pelas reivindicações que passaram a incluir o regresso do comboio ao Nordeste Transmontano.
A reactivação da linha do Tua, entre Mirandela e Bragança, com ligação a Espanha é uma reivindicação que ganha cada vez mais adeptos entre movimentos e população.
O presidente da Câmara de Mirandela, o social democrata José Silvano, já pediu ao Governo um fundo de 50 milhões de euros para demonstrar que este projecto é "mais vantajoso para a região e para o país do que a barragem".
A barragem é a de Foz Tua prevista no plano nacional de barragens e que, independentemente da cota que vier a ser adoptada, vai "afogar" os últimos e mais atractivos quilómetros da linha do Tua, e cortar a ligação à linha do Douro e ao litoral.
Os estudos sobre a barragem foram lançados para a discussão pública em Março de 2006.
Na mesma altura, o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, anunciava na imprensa a existência de um plano que previa o encerramento de vias estreitas como a do Tua até 2010.
No mesmo ano estava previsto o início das obras da barragem de Foz Tua. O ministro disse mais tarde não existir qualquer decisão política sobre o assunto, mas a linha do Tua não mais saiu da ribalta.
Poucos meses depois ocorria o primeiro acidente, a que se sucederam mais três, e que mantiveram a linha mais tempo encerrada a funcionar nos últimos dois anos.
A cada acidente seguiu-se uma suspensão temporária e a cada reabertura um acidente. Pouco tempo depois de levantada a primeira suspensão que durou quase um ano, o Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres (IMTT) ameaçou encerrar a linha por falta dos estudos e medidas de segurança exigidos à Refer.
Acabou por, em Março, prorrogar a licença e poucos dias depois um desabamento de pedras atingia, em Abril, uma Dresina (veículo de inspecção e segurança), ferindo três trabalhadores. Em Junho novo acidente com o descarrilamento de uma carruagem, que feriu dois passageiros, semelhante ao que viria a acontecer em Agosto, mas com um morto e mais de 40 feridos.
Os relatórios dos inquéritos ao último acidente associam ambos e apontam "defeitos grosseiros" na linha e a desadequação das carruagens do Metro de Mirandela que faz o transporte ao serviço da CP.
Desde o dia 22 de Agosto que a circulação está suspensa entre o Cachão e o Tua.
Depois de quatro mortes e outros tantos acidentes, as autoridades concluem que não há condições de segurança, nem foram feitos os investimentos necessários.
Os partidos da oposição, nomeadamente os "Verdes" e o Bloco de Esquerda pedem responsabilidades políticas.
Por divulgar continuam as conclusões das averiguações internas à CP e REFER para apuramento de responsabilidades nas "falhas humanas" admitidas pela secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
Nos tribunais foram também abertos processos relativos aos acidentes com mortes.
O último processo ainda está em fase de inquérito no Ministério Público, que arquivou o processo relativo ao primeiro acidente.
Quase dois anos passados, a mulher do revisor - uma das três vítimas mortais - continua nos tribunais a tentar levar os culpados a julgamento.
HFI.
Lusa/fim
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